O primeiro computador do Nordeste nasceu no Recife. Conheça a história do Corisco!

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Porto Digital

Primeiro computador produzido em Pernambuco, o Corisco

Há quase 40 anos, Pernambuco produzia o seu primeiro microcomputador, batizado como “Corisco”. O projeto foi possibilitado por pesquisas da Universidade Federal de Pernambuco, lideradas pelo engenheiro Rildo Pragana, e da iniciativa do empresário José Belarmino Alcoforado, da Elógica Micro Sistemas.

Nos anos 1980, a corrida pelo avanço da informática já era realidade no mundo. No Brasil, durante a redemocratização, aprovou a Política Nacional da Informática, que estimulava essa indústria com reserva de mercado para empresas nacionais. A deputada federal por PE Cristina Tavares foi uma grande defensora dessa política.

Em Pernambuco, existia uma preocupação da possibilidade de ficar refém da informática do Centro-Sul. Por isso, foi criada a Sociedade dos Usuários de Computadores e Equipamentos Subsidiários de PE, que já debatia a necessidade de um polo tecnológico no Estado em constantes reuniões.

Ao mesmo tempo, as universidades nordestinas estavam cada vez mais desenvolvidas. Núcleos de informática da UFPE, da Universidade Federal da Paraíba e da Universidade Federal de Campina Grande estavam começando a competir com empresas privadas na prestação de serviços de processamento de dados.

Na UFPE, se destacava o engenheiro Rildo Pragana, do Departamento de Física. Ele estudava microprocessadores desde 1976 e montou um grupo de cinco pessoas focado nessa tecnologia. Eles criaram um “workstation”, tipo computador com capacidade superior de processamento de cálculos e gráficos.

Esse workstation foi exposto numa feira e chamou atenção do empresário José Belarmino Alcoforado, dono da Elogica Micro Sistemas LTDA, voltada para comercialização de produtos de microinformática. Ele se comprometeu a fabricá-lo.

José Belarmino Alcoforado (esquerda) e Rildo Pragana (direita)

A fabricação do Corisco começou em 1982 numa parceria entre a UFPE e a Elógica, sendo um computador 100% pernambucano: as peças eram produzidas por um conjunto de 12 empresas locais, numa linha horizontal de montagem. A Elógica fazia a checagem final.

“Corisco” era o apelido do cangaceiro Cristino Gomes da Silva Cleto, um dos líderes do bando de Lampião. Famoso pelo porte físico atlético e beleza, ele também era conhecido como Diabo Louro. Essa associação com o cangaço era usada nas peças de publicidade do produto.

Publicidade do Corisco na época


O Corisco chegou ao mercado em 1984 utilizando a última geração de processadores para 8 Bits. Era equipado com um terminal de vídeo compatível com o sistema IBM - grande fabricante de PCs naquela época. Esse microcomputador poderia utilizar equipamentos como disquetes e impressoras, sendo atrativo para trabalhos de automação bancárias, conta corrente de clientes, pagamentos e outras utilizações comerciais e industriais.

Com o passar dos anos, ele ganhou nova versão com processador de 16 Bits e ficou compatível com o sistema operacional da Microsoft. Até 1987, estima-se que cerca de mil coriscos funcionavam em PE.

O Corisco foi adotado por instituições como Banco do Estado de Pernambuco - BANDEPE, Cia de Petroquímica do Nordeste, Federação das Indústrias de Pernambuco, Instituto de Desenvolvimento de Pernambuco (Condepe) e Fundação Joaquim Nabuco.

Cerca de mil unidades funcionavam em Pernambuco

Apesar do êxito, o Corisco sofreu uma certa resistência dos próprios empresários locais e de secretarias do Governo de Pernambuco, que preferiram comprar de concorrentes de fora por “não quererem arriscar”.

A Elógica, que também investia em pesquisas e executava projetos, enfrentou uma crise no final dos anos 1980 pela competição do Sul, que tinha mais recursos e infraestrutura. O mercado da informática sofreu uma recessão no final daquela década.

Em 1988, a Elógica deixou de produzir microcomputadores para focar na industrialização de equipamentos para automação comercial e em placas e softwares dedicados à soluções de conectividade. A Política Nacional de Informática, com reserva de mercado, acabou nos anos 1990.

Contudo, aos poucos, um polo de informática se firmava no Recife. No Centro, em Boa Viagem e no Espinheiro começaram a surgir pequenas empresas dedicadas à assistência, implantação de sistemas, predição e software e até pesquisas para equipamentos.

Em 1986, uma pesquisa da UFRJ sobre informática no Nordeste revelou que Recife estava à frente de Salvador e Fortaleza no setor por vários fatores, como energia, infraestrutura básica, distritos industriais, incentivos fiscais e programa estadual de apoio.

A pesquisa também fez referência ao Corisco por ser o primeiro microcomputador projetado e produzido no Nordeste, o que foi possível por pesquisas universitárias e existência de uma base industrial no setor de materiais elétricos e comunicações.

O empresário José Belarmino Alcoforado, da Elógica, e o engenheiro Rildo Pragana, até recentemente estiveram entre nós. Ambos faleceram em 2020, tendo sido grandes pioneiros da T.I pernambucana, inovando o mercado nordestino.

Com o Corisco, eles deixaram um exemplo de que, apesar das adversidades econômicas, sociais e das desigualdades regionais, dava para pensar em tecnologia em Pernambuco. E o tempo provou que era possível.